25/10/2009

O Evangelho perdido de Judas



O MISTERIOSO EVANGELHO PERDIDO DE JUDAS – FATO OU FICÇÃO DA CO-REDENÇÃO?
Copyright © 2006 J.J. Hurtak, Ph.D., Ph.D.

Eis o relato secreto da revelação que Jesus fez num diálogo com Judas Iscariotes uma semana antes de celebrar a Páscoa... Jesus lhe disse: “Afasta-te dos outros e contar-te-ei os mistérios do reino. Tu tens a capacidade de alcançá-lo, mas padecerás de extremo sofrimento”.
          — O Evangelho de Judas

A provocadora publicação mundial (abril de 2006) dos temas descobertos com a recuperação do Evangelho Perdido de Judas (Iscariotes) não foi surpresa para os que têm trabalhado com os textos cópticos perdidos nos últimos trinta e tantos anos. O Evangelho veio à tona recentemente em Nova York, em fevereiro de 2006, mas foi originalmente descoberto nos anos 70 perto da cidade de El-Minya, ao longo do Rio Nilo mais ou menos 120 quilômetros ao sul do Cairo. Ele está em concordância com o grosso da coletânea de Nag Hammadi que foi paulatinamente publicada por estudiosos em Berlim (na década de 50), na UNESCO e no Instituto de Antiguidades da Califórnia, que fez insinuações sobre afirmações e trabalhos controversos relacionados à vida de Jesus e os seus discípulos.
Com grande argúcia, Marvin Mayers e outros estudiosos contemporâneos mostram o Evangelho de Judas como um documento abertamente contrário aos ensinamentos dos Evangelhos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) e ao Evangelho de João, que são os únicos evangelhos no cânone tradicional. Embora ele só tenha vindo à tona recentemente, os estudiosos que primeiro reviram o documento perceberam que haviam recuperado do terceiro século um Evangelho perdido atribuído a Judas Iscariotes, de importância capital. Sabiam da descoberta bombástica que tinham em mãos e da sua imensa relevância: um documento que reavaliava os trechos finais dos Evangelhos ortodoxos do Novo Testamento sobre a paixão, a morte e a ressurreição de Cristo. A mensagem de fundo é a de que Judas teve um entendimento prévio do seu papel na história da crucificação como parte de um ensinamento interno que Jesus lhe havia transmitido sobre o papel cósmico do nascimento e da morte dele (Jesus) segundo a Providência Divina. A atribuição do nome “Judas” a um evangelho cóptico centenas de anos após o evento histórico condiz com a tradição de sabedoria cabalística egípcia e judaica na qual os escritores não costumam dar os seus nomes, mas usam o nome de um sábio ou mensageiro por respeito à tradição maior de ensinamentos.
Eu acabo de retornar de um projeto próximo a Nag Hammadi que em 1945 foi cenário da descoberta de mais de 54 textos cristãos antigos, a maior descoberta de documentos posteriores ao Novo Testamento — o trabalho continua até os dias atuais. Circundada por sítios arqueológicos, Nag Hammadi situa-se no Vale do Alto Nilo, sobre a encosta leste do rio, aproximadamente 30 km ao sul de Ábidos, onde alguns dos maiores templos do mundo antigo honram a Osíris, o deus da cosmologia egípcia que morre e se reergue. Aqui, os escritores e estudiosos cópticos do segundo e terceiro séculos d.C. trabalharam com questões teológicas, psicológicas e cosmológicas sobre a vida e a morte de Jesus de Nazaré na área que se estendia até o norte a Panópolis (“Cidade Global”), a capital do distrito egípcio. Os escombros dos monastérios e as ruínas de templos indicam a intensa vida intelectual de um tempo passado e de uma cristandade nascente que nem era oriental, nem ocidental, e sim, de modo especial, egípcio-africana. Segundo o grande explorador do século dezoito James Bruce, seria nesta área de influência, que se estendia do Egito à Etiópia, que seriam encontradas algumas das maiores obras perdidas do período intertestamental e do posterior ao Novo Testamento, que muitos dos pais da igreja dos primeiros tempos consideravam canônicos ou dignos de estudo.
Há algumas variações pontuais dos fatos entre este Evangelho de Judas perdido e os quatro evangelhos canônicos. Entre as mais importantes que o leitor perceberá estão as seguintes:
1) Judas exerce um papel muito mais próximo de Jesus como integrante de um discipulado interno.
2) Jesus sabia que a importância da sua morte requereria agentes humanos para encenar o drama cósmico e Judas era chave para o evento da morte na qual Jesus trocaria o seu manto de carne por um corpo de luz.
3) O uso da terminologia mística e esotérica como “Barbelo” e “Sophia” é crucial para a linguagem de outros textos cópticos que explicam a verdadeira natureza do mistério da morte e ressurreição de Cristo.
4) A real oposição velada aos ensinamentos de Jesus não era a das autoridades religiosas e políticas romanas e judaicas, mas a das hierarquias angélicas caídas dirigidas por Yaldabaoth e por outros, que usaram os sistemas humanos como joguetes.
5) Há uma fraca distinção entre a Sophia caída ilustrada no Pergaminho de Judas e o princípio feminino de sabedoria superior ilustrado no Antigo Testamento grego e no cristianismo místico do Egito, que afirmam a natureza positiva de Sophia.
6) Do mesmo modo, Saklas, uma inteligência mestre negativa do cosmo maior, é considerado o criador de Adão e Eva.
7) Ambos o Novo Testamento e a Coletânea Genuína de Nag Hammadi enfatizam que Maria Madalena, João e Pedro eram os discípulos mais próximos de Jesus. Os elementos significativos da crônica mais ampla de Jesus na cruz como, por exemplo, a realidade da ressurreição para fora da cruz – a “boa nova” dos “Evangelhos” — são deixados de fora.
8) Também é interessante notar que diferentemente de outros documentos cópticos que reconhecem o destaque atribuído a Maria Madalena, não há qualquer referência ao papel de Maria Madalena ou das proto-mães da Cruz. Talvez isto se deva ao fato de o escrito tender a atribuir maior responsabilidade pela crucificação a um Plano Divino superior de redenção humana. O Evangelho de Judas enfatiza que a Mente Divina que opera através do Cristo designou alguém previamente, Judas Iscariotes, aliviando de alguma forma os judeus e romanos da sua participação no evento cósmico celebrado na Páscoa no mundo inteiro.
Os leitores e estudiosos céticos e de mente aberta precisam fazer uma distinção entre os textos gnósticos cristãos “kosher”, genuínos, que aceitam a morte e a ressurreição de Cristo no contexto das atribuições do Pai Divino (YHWH) e as tradições místicas dos escritos do Antigo e do Novo Testamento. Em suma, os gnósticos cristãos genuínos não eram anti-semitas e assimilaram os grandes padres da igreja africana, Clemente de Alexandria e o grande estudioso da Igreja dos primeiros tempos, Orígenes.
Enquanto do ponto de vista geral a história da condenação e crucificação revelada no Evangelho de Judas segue a dos evangelhos canônicos, ela é bem diferente se vista de perto. O Evangelho de Judas não atinge o objetivo dos documentos cópticos “cristãos” mais plausíveis e minimiza o papel de outros discípulos e do Ofício do Cristo (Hebreus, capítulo 8), que Jesus veio cumprir sem a necessidade de uma intriga específica entre mestre e discípulo. Recomenda-se aos leitores interessados que leiam a coletânea completa dos documentos de Pistis Sophia (cinco volumes) que minha esposa e eu traduzimos e publicamos pela Academia para Ciência Futura a partir dos textos cópticos originais. Lá é explorado em grande detalhe o papel da Trindade de Trindades, do Nome Inefável e de Jesus após a ressurreição, de acordo com os escritos que os discípulos reuniram no Egito.
Para aqueles de vocês que queiram uma descrição mais detalhada com comentários de alguns dos textos e idéias cópticos, por favor, consultem Pistis Sophia: Texto e Comentário para compreender a fé e a sabedoria superior que os antigos cristãos que viviam no Egito revelaram.
J.J. Hurtak, autor de Gnosticismo: Mistério dos Mistérios, e tradutor e expositor de Pistis Sophia: Texto e Comentário, juntamente com a sua esposa Desiree, estudou textos cópticos no Egito e foi consultor do projeto arqueológico que empregou Radar de Penetração de Solo para localizar a tumba de Osíris no Egito em 1997.
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